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Em cada um de nós existe um poema .
Um por escrever ... um escrito que se quer procurado e se mantêm escondido na alma ... no coração.

Ser poeta ... não é escrever poemas.

É saber descobrir na poesia ... a parte que falta em si, a parte que falta ... nos outros .

Urbano Gonçalo




sábado, 28 de agosto de 2010

Excerto do meu romance "Genéve" (10)


-Então sempre vais passar o Natal a Inglaterra?
- É verdade, a minha filha e companhia assim o decidiram!
-Coitadinho, vais ter de abdicar das tuas queridas e cómodas sandes à noite! - gracejou Natalie (Nat, como a minha neta Joan lhe gosta de chamar!).
- Já coloquei algumas no congelador, quando eu voltar podemos fazer uma festa, que dizes?
- Mal posso esperar!!!
- Anda, eu ajudo-te a pôr isto no carro.
- Não é preciso, não te preocupes com isso!
Nat arrancou e eu fiquei a dizer-lhe adeus, para além de minha galerista ainda (como agora) vinha cá a casa buscar os quadros para a exposição. Tem sido uma grande amiga, desde a morte da Ana que ela me acompanha os passos, sempre que pode vem ver como eu estou.
Dois dias antes do Natal, lá estava eu junto da minha filha e companhia. Era sempre uma confusão dos diabos enfeitar a árvore e a casa, andavam enfeites, iluminações, e bolas do pinheiro por todo o lado principalmente graças ao Artur, o meu netinho mais novo. O pilrrete não parava quieto, por isso achei melhor poupar pelo menos a Joan que já se estava a passar, pois ela queria ter tudo "perfect", e encarreguei-me de domar o pequenito.
Era agradável o Natal lá, tenho de o reconhecer. Só os miúdos já faziam a festa toda, mas eu sentia a espaços algumas (muitas) saudades da Ana que eu sei iria adorar estar ali também. Fiquei lá até ao Ano Novo para aproveitar ao máximo a companhia dos miúdos, era sem dúvida um privilégio do qual não me apetecia abdicar, porque também não sabia até quando o iria ter. Queria por isso estar com eles o máximo de tempo possível.
Por vezes parava um pouco e distanciava-me ficando a observa-los. Eram uma bela família, senti ao observa-los que apesar de tudo o meu papel era agora muito mais de observador interessado, do que propriamente o de protagonista, mas não fiquei triste, pelo contrário, senti-me bem com aquela sensação.
No dia do meu regresso, já no aeroporto despedi-me de todos e abracei Joan em especial, ela já começava a ser uma mulherzinha cada vez mais parecida com a mãe.
- Até à próxima vô!
- Até à próxima princesa, toma conta aqui do "rei" Artur, não deixes ele desarrumar muito o castelo na minha ausência.
Rimos todos, e eu peguei no pequenote para lhe dar um beijinho, o problema foi depois ele voltar ao colo da mãe.
- Então meu pequenino, não me deixes assim triste, vá lá!
Artur continuava a chorar, não queria que eu viesse embora pelos vistos. Trocou de colo e foi para o do pai, acalmando-se um pouco, depois estendeu a mão e deu-me um carrinho que trazia consigo.
Ficamos todos muito admirados, com o gesto do miúdo, peguei no carrinho e dei-lhe mais um beijinho comovido.
- Um Porsche? Isto sim é um presente de Natal!
Despedi-me de todos novamente e juntei-me aos outros passageiros, a viagem desta vez pareceu-me mais longa (se fosse de táxi até acreditava!). Apesar de terem sido uns dias agradáveis eu sentia-me vazio cá por dentro, triste ... só. Mas apesar de me sentir só, eu não queria estar com outras pessoas, isto é um pouco confuso talvez mas o facto é que eu sentia-me mesmo assim. Sentia na pele a expressão " só no meio da multidão". Durante a viagem segui absorto numa confusão de sentimentos e quando finalmente cheguei a casa, atirei as malas para o chão da entrada, subi as escadas e atirei-me literalmente para cima da cama a chorar, não consegui evitar as lágrimas e deixei-as cair cara abaixo até lhes sentir o salgado sabor na boca.
Assim fiquei quieto, encolhido sobre mim mesmo, acho que desta vez a depressão me apanhou de guarda em baixo e atacou forte, não comi nem me despi, simplesmente puxei para cima de mim um cobertor e ali fiquei, não pensando coisa com coisa, apenas com ataques de choro a cada passo.
 

2 comentários:

G I L B E R T O disse...

Urbano

Ano que vem quando for ver meu pai aí em Portugal vou até Porto conhecer esta belissima cidade!
Um abraço, meu inteligente amigo!

Sempre bom vir te ver por aqui!

Estejas bem agora e sempre!

Anónimo disse...

Grande escritor este Urbano Gonçalo de Oliveira, meu amigo!
Bjs.

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