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Em cada um de nós existe um poema .
Um por escrever ... um escrito que se quer procurado e se mantêm escondido na alma ... no coração.

Ser poeta ... não é escrever poemas.

É saber descobrir na poesia ... a parte que falta em si, a parte que falta ... nos outros .

Urbano Gonçalo




segunda-feira, 9 de abril de 2012

Logical ...

 
Por vezes (muitas!) repetimos "erros" sem lógica nenhuma aparente,
 durante toda uma vida.
Situações que conseguimos distinguir a relevância, e às quais deliberadamente retirámos a importância, pois numa luta interior (cérebro-razão/coração-emoção) preferimos uma espécie de ... abstenção ou neutralidade cuja lógica ...

Por exemplo (meu exemplo!!)

Ir ao "corte" (cortar o cabelo em gíria!) sempre foi para mim, no mínimo ... chato!
O "beicinho", a angústia da vergonha e suas consequentes peripécias (entre miúdos, claro!), fizeram parte do "corte" desde que eu me lembro.
Por essa altura, andar com o cabelo grande, e com os meus caracóis loiros ao sol a brilhar, era uma maravilha.
No entanto a alegria acabava, sempre que a minha mãe me fixava e dizia às minhas irmãs:
- O menino está com o cabelo muito grande, até parece mal!
Vai daí, na próxima ida ao cabeleireiro, lá ia eu (quase de rastos!) todo amuado com ela. Enquanto o mulherio presente, queria brincar com as minhas gorduchas  bochechinhas e caracóis, eu engendrava vários planos, para escapar aqueles capacetes onde nos enfiavam de cabeça molhada (com ou sem "rolos") e de lá saíamos com os cabelos todos em pé (falo claro dos secadores de parede!)
 
Não, lá o corte ... agora ... capacetes NÃO!!
 
Lembro da menina Inês, que arranjava as unhas às senhoras (era simpática e tinha cá uns ... "argumentos"!!), dos tabuleiros com rolos, e da laca, tudo levava laca.
Para passar o tempo, virava as páginas às revistas do "Jet-Set", naquela altura tal como hoje, os ricos tinham muitos problemas, eles eram as férias nas Caraíbas, os carros desportivos, mansões, traições, divórcios e ... plásticas.
Já quase agradeço a Deus por ser pobre, é que os problemas dos ricos, persistem há anos e ... parecem não ter fim.
Bom, quando não era o salão da não sei quantas, era a vez da minha irmã mais velha, treinar os seus dotes de pseudo-cabeleireira no meu cabelo.
Grande à frente e curto atrás, curto à frente e grande atrás, sempre segui a mais recente moda de Hollywood. Alguns nomes sonantes dessa constelação como por exemplo os Bee Gees, John Travolta, etc, etc, fizeram furor no palco ... da minha cabeça.
Se comparar esses com os cortes à Napoleão Bonaparte do salão da não sei quantas ...

Um belo dia decidi colocar um ponto final nesta saga, já tinha alguma barba na cara e isso teria de significar alguma coisa.
Vai daí pego na bicicleta e rumo ao barbeiro que existia perto da minha escola.
Muitos homens, todos (ou quase) aos berros sobre futebol e clubismo.
Todos (ou quase) se calaram e ficaram a olhar para mim enquanto eu entrava.
- Bolas! -pensei- Como sabem que nunca vim aqui?!!
Sentei-me e aguardei ... aguardei ... aguardei.
De vez em quando esboçava um sorriso, em concordância com qualquer coisa dita de forma convincente. Não importava o quê, importava sim, era que entrasse outro tipo como eu, para eu lhe passar a "pasta" de forasteiro.
À falta de conversa, não tardariam muito a mandar umas bocas ao meu acne de adolescente.
- Tá naquela idade! he! he!
Já conhecia aquelas tretas todas de ginjeira, mas enfim!!
Beber uns bons bagaços, também era um conselho habitual, e esse até costumava vir acompanhado do respetivo ... hálito.
O Toninho (o barbeiro), cortava e ... falava, cortava e ... ia espreitar uma moça jeitosa que passava, cortava e ... respondia com o dedo do meio, ao taxista amigo que passava e se metia com ele. Eu com o cabelo metade cortado e metade por cortar, rezava ... rezava, e desejava sair rápido dali.
Uns tempos mais tarde, vim a conhecer ... outro barbeiro.
Corte, só com marcação, não era barbeiro mas sim ... cabeleireiro de homens.
Quando eu chegava, estava um a sair, quando eu saía, estava outro a chegar (nada de barulheira!), não parecia um café tal como o outro, nem ele queria gente por lá a passar o tempo.
Futebol, não se fala ou quase, porque não se quer ninguém chateado por ali.
O senhor António (assim se chama), homem dos seus cinquenta e muitos (diz ele!), educado, conhecedor de um vasto leque de temas, foi com o tempo ganhando confiança comigo e eu com ele também. Gosta de contar as suas aventuras de saias, e eu ... finjo que acredito na maior parte. Uma ou outra vez pára em frente ao espelho, para divagar um pouco sobre um tema comigo (nunca percebi porque o fazem, estando nós mesmo ao lado!) acende mais um cigarro (com minha autorização - pede sempre!) e elucida-me sobre um qualquer assunto que eu puxei (ao acaso) demonstrando-me o exemplo de alguém que por ali passou e até também tinha esse problema.
Enquanto fala, eu vou  atualizando a leitura das suas Pin-ups de calendário topless que vai atualizando volta e meia (e até tem bom olho o homem !!) 

Claro que já me devem imaginar a sair dali com um penteado à "Padrinho" ou à personagem dos "Sopranos". Faz sempre questão de caprichar e de me fazer um penteado imaculado, pese embora eu lhe diga sempre:
- Deixe lá sr. António, daqui vou para o chuveiro!
Na verdade queria dizer era:
- Isso quando chegar ao carro é para despentear tudo!

Por falta de tempo, vontade, bondade ou quiçá ... compaixão, eu sei lá!!
Continuo a lá ir ao corte, a visitar este "personagem" de outras décadas, e a mergulhar no seu tempo ... nas suas aventuras.
Está agora mais velho, já usa óculos mais graduados, fuma mais, e já só me conta as suas histórias até meio, porque se esquece do que estava a dizer muitas vezes.
Pergunta-me sempre se não quero por um pouco de ... laca, e eu rio-me disso sempre, pois lembro-me logo do salão da não sei quantas.

Enfim, que posso eu fazer ... dizer desta ... lógica ?!!







1 comentário:

Anónimo disse...

KKKKKKKKKK
Muito bom meu amigo!
Deu até para assistir as cenas de tão bem contadas.
Eu, diferente de vc, amo um salão de beleza e desde de bem novinha!
Bjs.

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