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Em cada um de nós existe um poema .
Um por escrever ... um escrito que se quer procurado e se mantêm escondido na alma ... no coração.

Ser poeta ... não é escrever poemas.

É saber descobrir na poesia ... a parte que falta em si, a parte que falta ... nos outros .

Urbano Gonçalo




terça-feira, 18 de setembro de 2012

Desabafos de um escritor ...


É complicado ser escritor, e fazer das ideias palavras.
Quem escreve por intuição satisfaz no fundo os desejos incontrolados de um outro ser que existe dentro ... de si.
Não dá para calar a voz desse ser interior, sobretudo ao artista.
Na verdade, o escritor é uma marioneta, que presa pelos fios invisíveis do talento, obedece literalmente aos desejos de quem está a segurar na ponta desses mesmos fios.
Esse ser interior ... decide falar quando quer, como quer, o que quer.
É complicado a gente pensar em escrever um livro (por exemplo) sobre o amor eterno, quando acabamos por seguir a caneta (ou teclado) numa espécie de perseguição voraz, que nos arrasta para uma saga de amor ódio numa aventura tão nova para o leitor ... como para o autor.
Sim ... existem escritores que enquadram os seus livros, e a sua escrita, seguindo os seus trâmites normais (para eles), que variam entre uma viagem, um amor impossível, sexo, crime, etc, um pouco disto, um pouco daquilo e ... VOILÁ!!

Mas esses não são escritores de puro malte, não existe dentro deles o ser que os comanda, não existe dentro deles o que quer que seja, na verdade.
Vendem dirão muitos, mas ... a que preço?!!
Quanto custa a mágoa de se saber uma fraude?!!

 É complicado e difícil de explicar a alguém, como em situações tão banais como conduzir, cozinhar, fazer a barba, cortar a relva ... ...
chegam e giram na nossa cabeça, montes de ideias, esboços de frases começos ou fins de não sabemos o quê, coisas do tipo - Dobrei a esquina certo de a encontrar, hoje mais do que nunca ...
ou então: - ... já só me encontrei junto ao velho portão, portão esse que teimosamente nunca atravessei ... ...
Não é fácil acordar, adormecer com mil histórias, poemas, dilemas até, numa mente já cansada de um dia de trabalho, trabalho esse que muitas vezes, não tem nada de escrita e exige muito de nós em outros e variados aspetos.
Mas complicado e doloroso mesmo, é sentir-mo-nos perante os outros, principalmente os mais chegados, como uma espécie de foras da lei, traidores,  amigos das relações profanas e duvidosas.

Eu explico!

Se escrevo um poema de amor ou ... sobre ele, logo esposa, amiga, namorada, enfim ... pensam que eu já penso noutra mulher, surge então logo o ciúme, se dou um nome ao personagem, de alguém conhecido (até por casualidade), - Então Maria é?!! Não será aquela fulana lá do emprego !!!!
Ou: - Não é o meu nome porquê?!!!

Estão a ver?!!

Volto a dizer, um poema é ... um poema, um momento de inspiração, que se partilha e espera que "alguém" o queira seu. É como um imagem que se fotografou e eternizou assim, pois se não o fosse seria complicado ao fotógrafo explicar o que viu, ele precisa de sobre maneira tal como o escritor, de passar aquele instante para o papel, sob o risco de nunca mais o ter de volta, caso não o faça.
Uma história um romance ou enigma são pura e simplesmente, isso mesmo.
Qual quadro de Picasso, cada qual vê neles o que quer, pois explicações eruditas à parte, ele (quadro) é apenas e só um momento de inspiração que o próprio artista só viu com os seus olhos quando o acabou, e ... o tal ser interior lhos destapou.
É complicado, por isso tantos e tão grandes artistas ao longo da história das artes, fracassaram nas suas relações amorosas e familiares. Muitos ... no desespero do que é a luta interior, entre si e a vontade e a incompreensão ... dos outros, enveredaram por caminhos de ruína e fatalidade.
Se não temos ciúmes do padeiro que dá uns "amassos" e" acaricia" a massa com as suas mãos, então não o façamos também com o que a mente dos outros cria e ... tão simplesmente ... nos oferece.






4 comentários:

Regina Rozenbaum disse...

Ô Urbano amaaaado...que coisa difícil! Sempre tive uma certa peninha dos escritores e poetas exatamente pelo que escreveu. É uma angústia que toma conta deles...sem explicação. Além da solidão! Fazem das palavras, ideias, suas fiéis e verdadeiras companheiras. Como explicar à esposa que o poema, personagem, enredo foi inspirado em ninguém a não ser à cabeça, fantástica, de seu criador??? Não queria estar em sua pele...o que posso dizer? FORÇA aí meu querido!!!
Beijuuss n.a.

Anónimo disse...

Não é?!
Bjs.

Samara de Oliveira disse...

Não pude deixar de vir conferir...

o que seria um "eu te amo" sem, de fato, sentir amor?

seriam apenas palavras... sem sentido, sem som, sem rumo, sem vida...

adorei o texto, amigo.

Bjinhos no coração =*

MA FERREIRA disse...

Ola Urbano!!!

Eu não sou escritora..mas entendi bem o que voce disse.
Mas como leitora....confesso a voce que sempre fico imaginando o escritor como personagem do que escreve.
Mas como diz o grande Poeta Fernando Poeta.... o poeta é um fingidor...no bom sentido!
Sempre bom te ler meu amigo!! bj

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