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Em cada um de nós existe um poema .
Um por escrever ... um escrito que se quer procurado e se mantêm escondido na alma ... no coração.

Ser poeta ... não é escrever poemas.

É saber descobrir na poesia ... a parte que falta em si, a parte que falta ... nos outros .

Urbano Gonçalo




sexta-feira, 23 de abril de 2010

Excerto do meu romance "Genéve" (8)

...passaram-se já alguns (muitos!) meses, desde a morte da Ana devido à sua doença incurável, que ela tão corajosamente escondeu de mim até ao limite das suas forças.
Uma manhã, passei os olhos pela sala em mais um dos meus momentos de nostalgia, na mesinha de apoio junto ao meu sofá, estava o livrinho da Ana. Peguei-lhe pela primeira vez para o ler, e ao fazê-lo caiu um pequeno envelope do seu meio, apanhei-o curioso e "gelei" simplesmente ao ler o que estava escrito por fora ... "Para ti, meu amor".
Pousei-o na mesa e levantei-me em direcção à janela, de novo com as lágrimas nos olhos. Ali fiquei a olhar para ele um bom bocado até ganhar coragem para o abrir, sentei-me de novo, peguei nele e lentamente abri-o. Respirei fundo, tirei a folha de dentro do envelope e comecei a ler com as mãos a tremer.
"Querido João, ao leres esta carta, não quero que estejas triste, mas sim que te sintas mais perto se mim e que te tentes conformar com a realidade. Perdoa-me se te quis poupar à dor, mas quero que saibas que faria o mesmo de novo. Depois de viver tantos anos só, tive a felicidade de conhecer o verdadeiro amor antes do meu fim. Mas valeu a pena a espera, pois fui feliz como sonhei no meu mais puro sonho de criança. Tu foste o meu desejo secreto, o meu mentor, o meu apoio na fraqueza, o meu desejo de lutar pela vida. Se não fosse por ti, à muito que eu teria baixado os braços, tu foste como uma bóia de salvação que nos cai à frente quando nos preparamos para desistir de tudo e de todos.Foi graças a ti, que eu não desisti de mim. Quero que me recordes com a felicidade nos olhos, e com um sorriso nos lábios, pois é assim que eu te irei receber na eternidade, quando Deus um dia te trouxer de novo para junto de mim. Tua para sempre, Ana."
Passados dois anos, leio e releio (pela primeira vez na vida!) esta carta e este caderno, de tal modo que o papel já começa a ficar gasto, porque para mim .... ele é mais do que um simples caderno, para mim ele é Ana e eu levo-o comigo sempre para todo o lado.

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