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Em cada um de nós existe um poema .
Um por escrever ... um escrito que se quer procurado e se mantêm escondido na alma ... no coração.

Ser poeta ... não é escrever poemas.

É saber descobrir na poesia ... a parte que falta em si, a parte que falta ... nos outros .

Urbano Gonçalo




sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Excerto do meu romance "Genéve" (12)


Depois de sair com alta do hospital, a minha filha e companhia receberam-me em ... minha casa. É verdade, pois eles tinham chegado para me ver e ajudar no que lhes fosse possível. Escusado será dizer, que tendo a minha filha netos e genro por lá, foi só boa vida e lá acabaram as minhas sandes à noite.
Por um desses dias de "boa vida", estava eu a passar pelas brasas (dormitar para quem não conhece o termo!) quando acordei com o meu netinho Artur no meu colo e a puxar-me o nariz ao mesmo tempo que o tapava. Levantei-me devagarinho e coloquei duas almofadas a ampara-lo, dirigindo-me depois ao escritório pesadamente. A minha filha Susana estava lá sentada a observar a divisão em si, com um ar muito nostálgico.
- Tudo bem filhota?
- Tudo bem, estava a pensar na mamã sabes? Quando era pequena gostava de vir aqui remexer nas tuas coisas, e ela na sua imensa paciência tinha de arrumar tudo, para tu não reclamares.
- Ora, eu até gostava! Tu sempre tiveste muito jeito para desenhar, eu até colocava os teus desenhos num placard na parede, para os poder admirar. Nunca consegui igualar tal simplicidade e imaginação, tu é que devias ter sido a pintora cá em casa.
- Gostavas a sério?
Dirigi-me ao armário junto à secretária e abri uma das gavetas, tirando de lá uma caixa de pele já gasta pelos anos.
- Toma, acho que está na altura de te devolver isto!
- O que é? - Susana olhou-me curiosa.
- É a prova de que sempre te admirei!
Susana, abriu a caixa, lá dentro tinha os seus desenhos, alguns pequenos brinquedos, pinturas e poemas.
- Quando estavas longe lá em Inglaterra e eu tinha saudades tuas, fazia-te uma visitinha indo ter contigo à caixa. Assim querida filhota estavas sempre comigo!
Susana abraçou-me emocionada.
- Obrigada papá, obrigada!
- Eu é que te agradeço! Olha, deixa-me só ficar com este poema que eu emoldurei e coloquei aqui na parede.
- Poema? Não me sabia poeta!
- Mas és! Este escreveste-o para um trabalho da escola, no dia da mãe. Escolheste o tema "Primavera", penso que devia ser o que mais se aproximava dos teus sentimentos por ela. Nós ficamos todos babados, mostramos aos amigos e como se não bastasse, queríamos mostrá-lo ao mundo. Por isso mandamos colocar esta pequena moldura que agora já está um bocado gasta como eu, mas o desenho e o poema ainda estão intactos, olha vê!
- Meu Deus! Já me lembro! Estava na cómoda do vosso quarto não era?
Esteve lá séculos.
- Sim, só após a morte da tua mãe é que eu o coloquei aqui no escritório, para estar mais perto de mim, uma vez que eu depois desse trágico momento das nossas vidas, comecei a passar muito do meu tempo aqui fechado.
- Vá lá papá! Lê-o para mim, quero ouvi-lo para me recordar!
- Está bem, vou tentar ler daqui sem os óculos!

P ensei num
R io de amor para te dar mãe
I nfinito e brilhante
M esclado de tons rosa e
A marelo suave como a luz
V erias até a minha imagem no seu leito
E nvolta pela luz do sol e
R odeada por um jardim de flores
A olhar por ti e a sorrir-te todo o ano.

- Primavera, era o título que eu coloquei na vertical, si senhor muito engenhoso para a idade! Sabes papá, isto tudo faz-me muitas saudades da mamã!
- A quem o dizes filhota, a quem o dizes!
Durante um mês ficaram a meu lado e ajudaram-me até sentirem que eu estava completamente bem. Aproveitei então estas mini-férias forçadas, para juntamente com a minha neta Joan lhes mostrar a minha cidade e arredores. Jantamos algumas vezes no restaurante que a Joan tinha descoberto na sua ultima vez por cá, visitamos os plátanos que a Joan adorava ver lá no parque ao fim da minha rua, e com tudo isto eu dia após dia recuperava as minhas forças. Joan até já gostava das nossas novelas juvenis, para meu desespero que muitas vezes tinha de me sentar junto dela e traduzir tudo aquilo que o seu fraco Português não entendia.
    

Dedico este trecho a todos os meus amigos brasileiros, pois sei que também eles estão agora a entrar na Primavera.

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito obrigada meu amigo!
Mas eu gostaria mesmo é de saber como posso adquirir seu livro.
Bjs.

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