Uma lareira acesa, uma árvore enfeitada, um pai "datado" que se espera e uma mãe que se esmera (desespera!), enquanto o pai presente espera e ... pondera.
Crianças a sonhar ausentes, com uma quantidade infinita de presentes, envoltos em visões de felicidade.
A ansiedade da espera, contradiz o momento, e desvaloriza os fisicamente presentes, em prol de um alguém fictício, que supostamente ao chegar (sem ninguém o ver!!) nos vai compensar mais um ano perdido, com uma mão cheia de objectos ... abjectos.
Felicidade, harmonia, generosidade, tudo isso está à venda numa qualquer loja de esquina, sob as mais variadas formas e cores, ao alcance de qualquer carteira, mais ou menos cheia.
Ao consumir este "espírito" da época, ao reduzir os nossos sentimentos a uma troca de objectos, estamos na verdade a tentar disfarçar um ou mais anos, em que embora normalmente presentes, estivemos sempre objectivamente distantes, submersos em nós, em esquemas, vaidades, invejas e ambições.
Por esse motivo, oferecemos objectos, e mais objectos e ... - Aí dele que não me dê ... ! (de preferência caros!)
Um terno olhar, um carinho sentido, um abraço forte, uma mão no ombro, um minuto de atenção, ou um sorriso de verdadeira felicidade, não constam em nenhuma das elaboradas listas de ofertas, nem mesmo nas de última hora.
Essas "ofertas" não significam dinheiro, e não nos dão o estatuto da cobiça e da inveja alheia. Disfarçamos atrapalhadamente, dizendo que o Natal (sim! É dele que eu estou a falar!) é para as crianças, mas ... não são elas que passam horas refasteladas à mesa a comer sem ter fome e a valorizar-se inconscientemente (?), dizendo aos filhos que não o fazem, que o deveriam fazer, pois ...
- Há por "esse" mundo fora muita boa gente a passar fome! ("esse", não "este"?!!).
Assim com base na ideologia misteriosa de um nascimento por provar, e de um "presenteiro" fictício e imortal, ensaiamos metodicamente todos os anos o mesmo acto, de uma peça em que o encenador, mais tarde mata o protagonista, para de imediato lhe oferecer a imortalidade e a divindade do céu, em seu próprio benefício.
Na prática, em pleno século 21, continuamos a ouvir e a passar (eu incluído) uma história precisamente com a mesma idade, que alheia ao mudar do mundo, resiste às suas provadas inconsistências, delegando as eventuais justificações, para alguém supostamente de índole superior e que talvez por isso mesmo, nunca nos provou que existe, ou mesmo que já existiu, deixando os pobres mortais na eterna e segura dúvida.
Já agora ... ... FELIZ NATAL!!!!!
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Em cada um de nós existe um poema .
Um por escrever ... um escrito que se quer procurado e se mantêm escondido na alma ... no coração.
Ser poeta ... não é escrever poemas.
É saber descobrir na poesia ... a parte que falta em si, a parte que falta ... nos outros .
Urbano Gonçalo
Em cada um de nós existe um poema .
Um por escrever ... um escrito que se quer procurado e se mantêm escondido na alma ... no coração.
Ser poeta ... não é escrever poemas.
É saber descobrir na poesia ... a parte que falta em si, a parte que falta ... nos outros .
Urbano Gonçalo
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