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Em cada um de nós existe um poema .
Um por escrever ... um escrito que se quer procurado e se mantêm escondido na alma ... no coração.

Ser poeta ... não é escrever poemas.

É saber descobrir na poesia ... a parte que falta em si, a parte que falta ... nos outros .

Urbano Gonçalo




segunda-feira, 12 de abril de 2010

Excerto do meu romance "Genéve" (2)


De passagem pela sala, olhei de relance o cavalete no escritório. Mais um quadro à espera da minha inspiração ... e eu, à espera da inspiração dele. Enfim, ultimamente nós dois passamos a vida nisto, já parecemos um jovem casal de namorados, tão depressa não nos largamos, como de seguida já não nos podemos ver um ao outro.
Apanhei um táxi e pedi ao motorista, para parar na galeria de arte na baixa, no intuito de junto da Natalie tentar justificar mais um atraso na entrega para a próxima exposição. Natalie sorriu quando me viu entrar, estava a atender um casal mais ou menos da minha idade, que por sinal pareciam interessados num dos meus quadros. Eu disfarçadamente fiz-lhe sinal para que não me apresentasse, ao ver que ela o pretendia fazer.
A senhora ao que percebi, achava o quadro muito colorido, e o marido achava-o "grande", divagavam sobre as ideias do artista o modo como ele supostamente teria aproveitado a luz natural, e a profusão de formas e cores, segundo eles ... eróticas, daí que possivelmente o artista teria pintado o quadro para o seu amor secreto.
-Não acha? - dirigiu-se a mim a senhora, vendo a minha óbvia curiosidade na conversa deles, e naquilo que aqueles "entendidos" conseguiam ver no meu quadro.
- Possivelmente tem razão! - disse-lhe eu, perante o seu olhar que me focava de cima até  abaixo e me dava vontade de "entrar" um bocado com ela - Mas, também é possível que o artista, como a senhora referiu atrás, pura e simplesmente tenha pintado a única tela que tinha no momento e tenha também gasto as cores que lhe restavam a meio da noite, quando já não havia onde comprar outras a essa hora, e o quadro em questão pode ser precisamente o reflexo de algo, que ele só viu quando acabou a sua vontade de o pintar.
- Quer dizer-me, que ele pintou isto tudo à sorte?
Eu sorri simplesmente.
- Vai me desculpar, mas penso que as belas artes e o seu conhecimento, não são de todo o seu forte!
  

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