Excerto do meu romance "Genéve" (5)

... deitei os olhos a uma tela, e comecei a trabalhar nela. Isto de pintar, para mim é como o sexo quando somos jovens, passa-nos qualquer coisa pela cabeça ou pelo olhar e ... "pronto". Assim tirei a tela que estava no cavalete à já não sei quanto tempo à espera, pois achei que ela ainda podia esperar um pouco mais. Quando dei por mim eram três da manhã e não me apetecia nada parar, gosto de pintar à noite, o que vai contra a ideia generalizada de que os pintores gostam de aproveitar a luz do dia. Alguns sim, no meu caso prefiro a calma e o silêncio da noite, para livremente adulterar o imaculado branco, que elas (telas!) gostam de ostentar, para assim intimidarem mais o pintor.
Chego mesmo por vezes a só me deitar de manhã, quando finalmente o mundo acorda e me rouba a magia da inspiração, tirando-me do "transe" em que estava, e depois ... fico parado a olhar o que fiz. Por norma nunca fico muito impressionado com o resultado, depois lá vou retocando aqui e ali sempre que a inspiração volta, e por vezes ela não volta, e a tela volta (já são muitas voltas!) para junto das outras aspirantes a quadros própria-mente ditos.