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Em cada um de nós existe um poema .
Um por escrever ... um escrito que se quer procurado e se mantêm escondido na alma ... no coração.

Ser poeta ... não é escrever poemas.

É saber descobrir na poesia ... a parte que falta em si, a parte que falta ... nos outros .

Urbano Gonçalo




sexta-feira, 19 de julho de 2013

Savin' Me


Como se saídos de mim ... mil ventos,
mil marés e luas, se desvanecem ... em parca nudez.
O preço da vida ...
A imensidão de um olhar que vagueia ... nos outros,
que vagueia por um mar, onde desagua o desprezo.
Finjo-me seguro ... sinto-me ... preso!
A beleza de um gesto fugaz,
um ténue silêncio que ... apraz,
palavras lidas e ... relidas nesse silêncio,
vidas ... vividas nesse silêncio,
tudo ... nada,
nada, mas ... tudo.
E o mundo, não se refaz ...
Esta angustia, que não ... me desfaz,
mas ... porquê?!!




sábado, 6 de julho de 2013

A vida em ti ...


A vida em ti vagueia
Calma aparente ... supostamente indiferente ao que te rodeia, supostamente indiferente ... ao amor
Na tua caixa de Pandora, guardas ciosamente o que te feriu ... te fere
Adornaste-a para te agradar ... fechaste-a a um canto, não a deixas ... falar,
porque se calhar ...
A vida em ti ... por ti ... vagueia
Corres o mundo qual criança alegre e ... insatisfeita por demais, mas ...
mala e barriga cheia ... não te premeia
Fuga ... ilusão de famoso ilusionista ... quiçá ?!!
Voltas e ... à tua volta, tudo volta
Sempre um desagrado, sempre ... o fardo
Em toda a mentira, se esconde uma verdade por dizer ...
um gesto por fazer
Os teus olhos, conhecem a verdade que não aceitas
Sabem qual é ... sabem onde está escondida
Os teus olhos sorriem à socapa de ti ... quando me vêem, quando me vês ... de toda a vez
A vida em ti ... vagueia
Todo um mundo pode te acolher ... mas não evitarás mais ... sofrer
A vida em ti ... está morta, ou quer ... morrer
Deixa-a ... ela voltará a renascer, e os teus olhos, ahhh ... os teus olhos cor de amêndoa, ver-me-ão então vida, far-te-ão Julieta para mim ... por fim
Saberás então, que a felicidade estava aqui tão perto, estava à distancia de um ... crer ... à distancia de um ... querer.






domingo, 30 de junho de 2013

Novo romance ... IV


- Sabes ... tu ocupas o meu pensamento, todo o dia!
 Quando estou contigo, recupero-me onde me perdi, mas ... não sei o que fazer, se por um lado quero afastar-me, por outro não me imagino mais ... longe de ti!
A minha vida ... teve tantos desgostos, tantas desilusões ...
Interrompi-a, não podia mais, vê-la tão triste.
- Pensa na tua vida, como se ela começa-se agora!
Pensa na tua vida, a chegar de mim! Deixa que o passado parta e ... lá fique!
Pensa em ti, na tua felicidade!
O que queres ... o que mereces, o que ainda podes ter ... o que ainda podemos ter!




segunda-feira, 24 de junho de 2013

Miura


 Miguel Torga, foi um dos meus companheiros de tempos livres na escola.
Autor consagrado, autor de uma escrita muito especial, quase diria surreal.
Tal como outros grandes autores da época (Camilo Castelo Branco, etc), teve nas paisagens rurais a inspiração necessária às suas histórias. Cada personagem nasce ... aparece do nada, aparece sob a forma mais ousada ou ... mais banal, seja homem, planta ou mesmo animal.
Deixo aqui uma dessas histórias (livro "Os Bichos"), pois retrata uma tradição Ibérica chamada ... tourada.
 Já aqui disse que sou contra tal tradição, por isso deixo as "letras" do Miguel Torga, mostrarem o seu ponto de vista, ponto de vista que confesso é uma maneira curiosa de abordar tal tradição, dignificando merecidamente ... o animal.


Miura.

Fez um esforço. Embora ardesse numa chama de fúria, tentou refrear os nervos e medir com a calma possivel a situação.
Estava, pois, encurralado, impedido de dar um passo, à espera de que lhe chegasse a vez! Um ser livre e natural, um toiro nado e criado na lezíria ribatejana, de gaiola como um passarinho, condenado a divertir a multidão.
Irreprimivel, uma onda de calor tapou-lhe o entendimento por um segundo.
O corpo, inchado de raiva, empurrou as paredes do cúbiculo, num desespero de Sansão.
Nada. Os muros eram resistentes, à prova de quanta força e quanta justa indignação pudesse haver. Os homens, só assim; ou montados em cavalos velozes e defendidos por arame farpado, ou com sebes de cimento armado entre eles e a razão dos mais ...
Palmas e música lá fora. O Malhado dava gozo às senhorias ...
Um frémito de revolta arrepiou-lhe o pêlo. Dali a nada, ele. Ele, Miura, o rei da campina.
A multidão calou-se. Começou a ouvir-se, sedante, nostálgico, o som grosso e pacífico das chocas.
A planície! ... O descampado infinito, loiro de sol e trigo ... O ilimitado redil das noites luarentas, com bocas mudas, limpas, a ruminar o tempo ... A fornalha escaldante, sedenta, desesperante, que o estrídulo das cegarregas levava ao rubro.
Novamente silêncio. Depois, ao lado, passos incertos de quem entra vencido e humilhado no primeiro buraco ...
Refrescou as ventas com a língua húmida e tentou regressar ao paraíso perdido.
A planície ...
Um som fino de corneta.
Estremeceu. Seria agora? Teria chegado, enfim, a sua vez?
Não chegara. Foi a porta da esquerda que se abriu, e o rugido soturno que veio a seguir era do Bronco.
Sem querer, cresceu outra vez quanto pôde para as paredes estreitas do cárcere.
Mas a indignação e os músculos deram em pedra fria.
A planície ... O bebedoiro da Terra-Velha, fresco, com água limpa a espelhar os olhos ...
Assobios.
O Bronco não fazia bem o papel ...
Um toque estranho, triste, calou a praça e rarefez o curro.
Rápida e vaga. a sombra do companheiro passou-lhe pela vista turva. Apertou-se-lhe o coração. Que seria?
Palmas, música, gritos.
Um largo espaço assim, com o mundo inteiro a vibrar para além da prisão. Algum tempo depois, novamente o silêncio e novamente as notas lúgrubes do clarim.
Todo inteiro a escutar o dobre a finados, abrasado de não sabia que lume, Miura tentava em vão encontrar no instinto confuso o destino do amigo.
Subitamente, abriu-se-lhe sobre o dorso um alçapão, e uma ferroada fina, funda, entrou-lhe, na carne viva. Cerrou os dentes, e arqueou-se, num ímpeto.
Desgraçadamente, não podia nada. O senhor homem sabia bem quando e como as fazia. Mas por que razão o espetava daquela maneira?
Três pancadas secas na porta, um rumor de tranca que cede, uma fresta que se alargou, deram-lhe num relance a explicação do enigma da agressão; chegara a sua vez.
Nova picada no lombo.
- Miura! Cornudo!
Dum salto todo muscular, quase de voo, estava na arena.
Pronto!
A tremer como varas verdes, de cólera e de angústia, olhou à volta. Um tapume redondo e, do lado de lá, gente, gente, sem acabar.
Com a pata nervosa escarvou a areia do chão. Um calor de bosta macia correu-lhe pelo rego do servidoiro. Urinou sem querer.
Gritos da multidão.
Que papel ia representar? Que se pedia do seu ódio?
Hesitante, um tipo magro, doirado, entrou no redondel.
Olhou-o a frio. Que força traria no rosto mirrado, nas mãos amarelas, para se atrever assim a transpor a barreira?
A figura franzina avançou.
Admirado, Miura olhava aquela fragilidade de dois pés. Olhava-a sem pestanejar, olímpica e ansiosamente.
Com ar de quem joga a vida, o manequim de lantejoulas caminhava sempre. E, quando Miura o tinha já à distância dum arranco, e ainda sem compreender olhava um tal heroísmo, enfatuadamente, o outro bateu o pé no chão e gritou:
- Eh! boi! Eh! boi!
A multidão dava palmas.
- Eh! boi! Eh! boi!
Tinha de ser. Já que desejavam tão ardentemente o fruto da sua fúria, ei-lo.
Mas o homem que visou, que atacou de frente, cheio de lealdade, inesperadamente transfigurou-se na confusão de uma nuvem vermelha, onde o ímpeto das hastes aguçadas se quebrou desiludido.
Cego daquele ludíbrio, tornou a avançar.
E foi uma torrente de energia ofendida que se pôs em movimento.
Infelizmente, o fantasma, que aparecia e desaparecia no mesmo instante, escondera-se covardemente de novo atrás da mancha atordoadora. Os cornos ávidos, angustiados, deram em cor.
Mais palmas ao dançarino.
Parou. Assim nada o poderia salvar.
À suprema humilhação de estar ali, juntava-se o escárnio de andar a marrar em sombras. Não.
Era preciso ver calmamente. Que a sua raiva atingisse ao menos o alvo.
O espectro doirado lá estava sempre. Pequenino, com ar de troça, olhava-o como se olhasse um brinquedo inofensivo.
Silêncio.
Esperou. O homem ia desafiá-lo certamente outra vez.
Tal e qual. Inteiramente confiado, senhor de si, veio vindo, veio vindo, até lhe não poder sair do domínio dos chifres.
Agora!
De novo, porém, a nuvem vermelha apareceu. E de novo Miura gastou nela a explosão da sua dor.
Palmas, gritos.
Desesperado, tornou a escarvar o chão, agora com as patas e com os galhos. O homem!
Mas o inimigo não desistia. Talvez para exaltar a própria vaidade, aparentava dar~lhe mais oportunidades. Lá vinha todo empertigado, a apontar dois pequenos paus coloridos, e a gritar com há pouco:
- Eh! boi! Eh! boi!
Sem lhe dar tempo, com quanta alma pôde, lançou-se-lhe à figura, disposto a tudo. 
Não trouxesse ele o pano mágico, e veríamos!
Não trazia. E, por isso, quando se encontraram e o outro lhe pregou no cachaço, fundas, dolorosas, as duas farpas que erguia nas mãos, tinha-lhe o corno direito enterrado na fundura da barriga mole.
Gritos e relâmpagos escarlates de todos os lados.
Passada a bruma que se lhe fez nos olhos, relanceou a vista pela plateia. Então?!
Como não recebeu qualquer resposta, desceu solitário à consciência do seu martírio.
Lá levavam o moribundo em braços, e lá saltava na arena outro farsante doirado.
Esperou. Se vinha sem a capa enfeitiçada, sem o diabólico farrapo que o cegava e lhe perturbava o entendimento, morria.
Mas o outro estava escudado.
Apesar disso, avançou. Avançou e bateu, como sempre, em algodão.
Voltou à carga.
O corpo fino do toureiro, porém, fugia-lhe por artes infernais.
Protestos da assistência.
Avançou de novo. Os olhos já lhe doíam e a cabeça já lhe andava à roda.
Humilhado, com o sangue a ferver-lhe nas veias, escarvou a areia mais uma vez, urinou e roncou, num sofrimento sem limites.
Miura, joguete nas mãos dum Zé-Ninguém!
Num ímpeto, sem dar tempo ao inimigo, caiu sobre ele. Mas quê! Como um gamo, o miserável saltava a vedação.
Desesperado, espetou os chifres na tábua dura, em direção à barriga do fugitivo, que arquejava ainda do outro lado. Sangue e suor corriam-lhe pelo lombo abaixo.
Ouviu uma voz que o chamava. Quem seria?
Voltou-se. Mas era um novo palhaço, que trazia também a nuvem, agora pequena e triangular.
Mesmo assim, quase sem tino e a saber que era em vão que avançava, avançou.
Deu, como sempre na miragem enganadora.
Renovou a investida. Iludido, outra vez.
Parou. Mas não acabaria aquele martírio? Não haveria remédio para semelhante mortificação?
Num último esforço, avançou quatro vezes.
Nada. Apenas palmas ao palhaço.
Quando? Quando chegaria o fim de semelhante tormento?
Subitamente, o adversário estendeu-lhe diante dos olhos congestionados o brilho frio dum estoque.
Quê?! Pois poderia morrer ali, no próprio sítio da sua humilhação?! Os homens tinham dessas generosidades?!!
Calada, a lâmina oferecia-se inteira.
Calmamente, num domínio perfeito de si, Miura fitou-a bem.
Depois, numa arremetida que parecia ainda de luta e era submissão, entregou o pescoço vencido ao alívio daquele gume.

Miguel Torga - "Os Bichos" 

domingo, 16 de junho de 2013

Todos os caminhos ... vão dar a Roma


Desde a antiguidade, o homem sempre procurou criar instrumentos que atendessem às suas necessidades de sobrevivência, bem-estar, conforto e sobretudo locomoção ou transporte.
Se recuar-mos na história dos transportes, poderemos fazer uma melhor ideia do seu valor na própria humanidade, bem como poderemos compreender melhor o seu atual estado e quiçá até mesmo imaginar o próximo passo.

Segundo os historiadores Marconi&Presotto (1986), o primeiro vestígio de "transporte" aparece no mesolítico escandinavo, com um tipo de ... canoa.
No neolítico, as provas (disponíveis!!) referem-se apenas aos transportes aquáticos: canoas e pirogas nomeadamente.
A idade do cobre, já nos apresenta para além de barcos, alguns tipos de transportes terrestres. De início o homem fazendo uso da sua argúcia, utilizava vários tipos de materiais: troncos, cabaças e peles infladas, canas de bambu, etc.
No entanto o meio de transporte mais antigo e rudimentar é sem dúvida o próprio ... caminhar. Usando a sua força motriz (corpo) o homem vencia longas distancias carregando muitas vezes consigo os seus bens ou artefactos aos ombros, às costas ou até mesmo arrastando-os. Daí que não seja de estranhar, que ao que tudo indica o primeiro meio de transporte utilizado pelo homem terá sido o trenó ou algo similar. Vestígios encontrados no mesolítico da Finlândia e também em planícies do Oriente por volta de 4000 ac assim o indicam.

Com a domesticação dos animais (cão, cavalo, rena, burro, boi, etc) o transporte terrestre cresceu, pois o homem percebeu que poderia usar a força animal para a sua locomoção e para transportar cargas pesadas. A invenção da roda (Mesopotâmia antes de 3000 ac) deu o empurrão decisivo até aos nossos dias.
Pesada e rudimentar na altura, a roda foi aplicada aos primeiros "carros" cuja tração era assegurada por animais.
Com a chegada desses carros, surgiram também as primeiras estradas (viriam a ser!), que segundo Heródoto (historiador grego 484-425) menciona nos seus escritos, foram os egípcios que inventaram, ao assentarem pedras nos caminhos, de forma a passarem os carros que transportavam as enormes pedras, para a construção das pirâmides, feitas na altura (3000 ac) pelo rei Quéops.
Consoante as rudimentares carroças davam lugar a uns mais perfeitos modelos, destinados entre outros fins à locomoção pessoal, também as "estradas" evoluíram.
Cartagineses, Etruscos, e mais tarde os Romanos, começaram a construir as suas estradas para melhor e mais rapidamente se deslocarem. Os Romanos por exemplo, construíram em 312 ac a sua via Àpia, e à medida que iam conquistando terras, ligavam à via Àpia novas estradas, chegando a ter uma rede de estradas de mais de 80.000 km, que se estendiam desde a Gália, Espanha, Portugal, etc, tendo também na Inglaterra e mais para Oriente construído essas estradas.

Daí o velho ditado:
 Todos os caminhos vão dar a ... Roma.

Ainda a titulo de curiosidade, deixem-me mencionar que foi somente no séc. XV, com o fim da guerra dos "Cem anos" entre Inglaterra e França, que o movimento voltou às  estradas que anteriormente a essa altura tinham esmorecido, pela falta de transito que havia estagnado.
Em 1747 começaram os estudos técnicos sobre estradas (construção, materiais, etc), e foram os ingleses os primeiros a desenvolverem os sistemas de drenagem dos solos, e ... um tal de MC Adam (não, não era nenhum raper!!) inventou um sistema de pavimentar mais rápido e barato, utilizando pedrinhas de cascalho, ficando o nome desse primeiro "asfalto" ligado ao seu inventor pelo nome ainda hoje conhecido (já só por alguns!) de "macadame".
 ... alcatrão ?!!!!

domingo, 9 de junho de 2013

Sapinhos ...



                                           Sapinhos


                                   Acrílico sobre tela



quarta-feira, 5 de junho de 2013

The Best Ballads Of Phil Collins



Pois ... chamem-me lá ... romântico, façam como quiserem, mas ... eu pergunto, quem não recorda algo ou alguém ao ouvir estas baladas?!!!
Porque não recordar ... reviver, voltar a dançar com os sentimentos tantas vezes esquecidos, tantas vezes ocultos, tantas vezes ... ignorados.
Vá lá ... continuemos ... apaixonados!!!!

domingo, 2 de junho de 2013

D. Quixote


                                        D. Quixote
                                               
                                                         
                                       Óleo sobre tela
 
 
Vistas de pormenor
 







sexta-feira, 24 de maio de 2013

Parabéns filhota







M esmo sem eu saber
A vida por ti já sorria
T alvez por finalmente poder
I rradicar de mim a nostalgia
L ançou no teu olhar balões cheios, cheios
D e contagiante fantasia
E não olhando a meios

R edobrou a minha alegria
I nsinuando-se ao meu coração
B randindo o teu sorriso a tua magia
E nvolvendo-o assim numa paixão
I mensa que cresce dia após dia
R enovo desde então
O sentimento a ousadia

D e quem não queria viver em vão
E viver até aí ... não sabia

O lhar-me em ti não foi senão
L ibertar um coração que sofria
I nventando eu desde então
V ários poemas a cada dia
E nenhum sem exceção
I dealiza o que não seria
R ever-me ao espelho no teu coração
A bençoar-te do teu primeiro, ao meu último dia.


Dedicado à minha filha Matilde (Maty).
Feliz aniversário filhota.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Novo romance ... III


... se dúvidas eu tivesse, elas ficaram desfeitas.
Naquela discussão entre a minha mãe e a Catarina, eu fui por certo o tema.
Com mil coisas a deambular na minha cabeça, deitei-me por cima da cama, numa tentativa vã de visualizar as soluções para o meu problema, no teto do meu quarto.
No dia seguinte, esperei Catarina sentado à porta do seu apartamento.
Cansado de a procurar, de lhe bater diariamente à porta sem obter resposta sequer, optei por uma medida mais drástica.
Mais ou menos à hora habitual, ela chegou.
Vinha no carro de uma amiga, despediram-se e vi ela entrar no prédio.
Como o elevador estava funcional, ela não se descalçou como habitualmente fazia, para ocultar o som dos sapatos de salto alto. Senti o elevador a subir e por fim a porta abriu-se, ficando ela a olhar para mim.
-Bom dia! - disse.
Dirigiu-se à porta, abriu-a e disse-me:
- Entra!
Assim fiz, ela seguiu-me. Deixou o casaco e a carteira na cadeira do Hall, tirou desta feita os sapatos e eu via-a muito pensativa.
- Vem cá! - disse, pegando-me na mão e levando-me a sentar junto de si no sofá.
Olhou-me demoradamente, eu atónito tentei dizer algo. Ela antecipou-se então.
- Precisamos de conversar Gonçalo! - começou - Sei que estás muito confuso, imagino que terás muitas perguntas, e por certo imaginas muitas respostas às mesmas!
- Diz-me só, porque te distancias de mim! - pedi-lhe eu.
Catarina levantou-se, puxou o seu cabelo negro encaracolado para trás, e colocou a mão na testa. Depois voltou-se e disse:
- Quantos anos tens Gonçalo?
- Quase dezanove! - respondi.
- Quase dezoito. - corrigiu ela.
- Sabes quantos eu tenho?!!
- Trinta?!!
- Trinta e quatro! - exclamou ela, enquanto vagueava pela sala.
- Sabes - continuou - em que trabalho?!!
- Sei! Trabalhas num bar!
- Sabes que é um bar de "Strip"?!!
- Já ouvi dizer, claro! Mas ... tudo o que pensas importante pela negativa, não me diz rigorosamente nada. O que me importa, me interessa ... és tu!
Ela olhou-me fixamente durante alguns segundos e perguntou-me:
- O que sentes por mim Gonçalo?
As minhas palavras, tinham saído diretas do coração. Com aquela pergunta fiquei entre a cabeça e o coração, que é para não dizer, entre a espada e a parede. Apercebi-me então que as lágrimas que surgiam nos olhos de Catarina, mereciam toda a verdade, apenas e só.
Peguei-lhe nas mãos, respirei fundo para tentar libertar a minha garganta e o meu peito. Por fim, respondi-lhe:
- Na verdade Catarina ... estou apaixonado por ti! Não me importa diferenças de idades, profissões, mentes dos outros ... o mundo, eu sei lá que mais!
Só tu me importas, só quero saber ... se sentes também tu, algo por mim.
Catarina chorava já. Os seus lábios finos tremiam e as suas mãos começavam a apertar as minhas.
- Eu ... eu não sei o que te dizer! - respondeu-me, enquanto procurava nos meus olhos uma qualquer resposta - Na verdade calculava o que sentias por mim, sei que te levantas tão cedo por mim, sei que nunca ligas nada às miúdas da tua idade, apesar de seres muito pretendido.
Catarina largou-me as mãos e dirigiu-se lentamente à janela limpando as lágrimas dos olhos. Durante alguns segundos ficou em silêncio a sós com os seus pensamentos, até que por fim disse:
- Sabes ... eu sinto o mesmo por ti Gonçalo! Também eu estou apaixonada por ti, e estou cansada de todos os dias lutar contra isso!
Ocupas os meus pensamentos todo o dia, quando estou contigo recupero-me onde me perdi, mas ... não sei Gonçalo, não sei o que fazer. Se por um lado quero afastar-me, por outro sinto que se o fizer perco algo que eu nunca mais terei ...
Agarrei Catarina pela mão, limpei-lhe as lágrimas
e beijei-a.
Aí soube, que venderia a alma e o mundo ... por ela.  






sábado, 11 de maio de 2013

domingo, 5 de maio de 2013

Um bom ... 8


Uma vez ouvi alguém dizer (penso que foi o Pedroto! (antigo treinador do F.C.P, para quem não sabe!) que num jogo de futebol, mostrávamos a nossa personalidade interior.

Ora ... o que quer isto dizer?

Bom segundo a mesma "fonte", num jogo desses temos quase sempre de ir improvisando (na vida ... também!), temos de ajudar e recuperar as falhas dos "nossos" (na vida ...), temos de saber quando é tempo de retrair e de nos defender-mos, mesmo contra a vontade (na vida ...), mas também temos por outro lado de arriscar, umas vezes às cegas outras nem tanto, mas ...  o risco está sempre lá (na vida ...), temos de perdoar os erros dos outros e aprender com eles e com os nossos e seguir em frente (na vida ...), temos de ser unidos, não pecar pela individualidade pois ela é falsa e distante (na vida ...), temos de acarinhar e celebrar os nossos triunfos e os dos outros que nos ajudam, pois a alegria fomenta mais alegria, paz e amizade (na vida ...), respeitar individualidades significa nesse jogo dar liberdade de ação, pois se uns têm mais jeito para as recuperações, outros têm mais jeito para finalizar, outros ainda ... para proteger uma ultima instância, outros têm mais jeito para organizar, ajudar, e proporcionar as oportunidades a quem delas carece e as sabe aproveitar.
Cada jogador tem um número como se sabe (agora por acaso até o número corresponde à sua inscrição, antes era do 1 ao 11, agora pode ser o 76 ou outro qualquer!!), a cada número corresponde uma posição no terreno e uma "tarefa" condizente com a sua personalidade, com o seu ... jeito ou modo de ser.

Na vida também é assim, se uns são mais resguardados de personalidade ou financeiramente, outros fazem e dizem o que lhes vem no momento à cabeça. Outros mais comedidos ouvem, pensam e depois resolvem algo, tendo em conta os que os rodeiam e o objetivo em vista.
Por isso 1 (guarda-redes) é sempre aquele alguém em quem pomos as nossas ultimas esperanças quando estamos aflitos (pais, avós ...), 2,3,4, ... também nos seguram (familiares, amigos próximos), 5,6,7,8, ... ajudam a defender (amigos, família direta (esposa/marido), organizam as coisas e lançam novos objetivos aos outros, dando-lhes (e a nós também!) assim a eterna e sempre necessária ... esperança que nos move, 9,10,11, ... são as nossas esperanças de êxito, são as oportunidades para as quais trabalhamos, são o tal "milagre" que todos nós ... sempre pedimos (promoções, sorte ao jogo, etc).

E você, que numero é?!!

Eu penso que descobri o meu!
Acabei por dar razão a um antigo treinador de infância, pois sempre quis jogar (e joguei!) com o 7 (estremo atacante), ele dizia-me que eu era ... um bom 8 (meio campo também mas zona central e a pessoa que resolve (defende, organiza e lança o ataque), coincidência ou não (talvez a idade seja a razão!) as ultimas vezes que joguei foi precisamente ... com o 8.
De facto quando encontrámos o "nosso" sítio certo, tudo e todo o resto se torna mais fácil.  

 



quarta-feira, 1 de maio de 2013

Pássaros de fogo


                                 "Pássaros de fogo"

Óleo sobre tela - 13/18
 
 
 
Este foi o primeiro quadro que eu pintei.
Faz hoje precisamente ... 20 anos!!
 
 

sábado, 27 de abril de 2013

Enola Gay



O nome não será "estranho" a algumas pessoas certamente, mas ... muito poucas delas saberão, é que este foi o nome dado ao bombardeiro B-29, que lançou a bomba atómica sobre a cidade japonesa de Hiroshima no dia 6 de Agosto de 1945, dando assim o primeiro passo (o segundo foi em Nagasaki!) para o final de mais uma estúpida guerra mundial (a segunda).
Este quadrimotor foi pilotado pelo então coronel da aviação dos U.S.A, Paul Tibbets Jr. à altura com os seus trinta anos.
Depois da fatídica missão que mostrou ao mundo mais uma vez que o homem, nunca mais aprende com os erros do passado, Tibbets escolheu pessoalmente
um B-29, batizando-o com o nome Enola Gay ... homenageando assim a sua mãe.

Pergunto eu:
- Então alguém que acabou de dizimar milhares de pessoas inocentes (mulheres, crianças, etc!!) lá do alto, na sua segurança (pois as anti-aéreas nem lá chegavam!), homenageia a sua mãe, colocando o seu (dela) nome no portador do objeto do holocausto????

Seria por carinho, ou seria ... ódio?!!!
Quanto a mim, foi no mínimo uma grande ... estupidez, mas ... enfim!



 

 
 
 
 
Eu sabia que existia por aí, uma música com este nome!
O.M.D, pois claro!!
 
 
 
 
 

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Diana Krall ...

Todos nós gostamos de "re"ouvir esta ou aquela música em particular.
Por vários motivos, ou até ... por falta deles, mas a verdade é que existem músicas inesquecíveis e intemporais, por isso aqui ficam algumas, numa voz que já dispensa apresentações.

                     Diana Krall ... palavras para quê?!!




 
 


                                            Que tal?!!!

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Novo romance ... II



Bati à porta de Catarina, ouvindo logo de seguida:
- Está aberta, entra!
Faço sempre de conta ao entrar, que não conheço a casa. Ela estava junto à janela a desenrolar um dos rolos de papel que nós iríamos colar nas paredes.
Vê-la assim com o sol da tarde por trás da sua silhueta, deixou-me ali um bocado de tempo parado a ... apreciar. Uma simples camisola e umas calças de fato treino nunca me tinham parecido tão sensuais.
Ela apercebeu-se do meu estado "ausente" e acenando com as mãos disse:
 - Hellloooo!!!!
Acordei finalmente, e não pude claro, evitar de corar um pouco.
- Estava a tentar descobrir, qual era esta música que está a tocar! - disfarcei.
-Ah!!! Já é antiga.
É uma mania minha, gosto de comprar velhos discos por aí nas feiras.
São os "Imagination" e a música chama-se "Body Talk". Gosto, é uma balada do tempo do "disco-sound", sabes ... do tipo grandes cabeleiras e calças largas em baixo!
- "Body Talk" ... pois, muito a propósito - pensei eu.
- Já tenho a cola pronta senhor ajudante, ficas tu em cima do escadote?!!
- Claro! - respondi a custo, ela estava tão linda!
Passamos a tarde a colar papel nas paredes da sala, conversamos, conversamos, ou melhor ... conversou ela, parecia feliz ... muito feliz.
- Então ... quantas namoradas tens?!!
Sorri, só podia.
- Bem ... sem contar com a ... e a .... não tenho nenhuma, claro!
- Não acredito em ti!
- E tu? Quantos namorados tens?!!
Ela hesitou um pouco antes de responder.
- Diz-me tu uma coisa Gonçalo, achas que o meu coração é de alguém?
Sentou-se junto a mim, corei novamente, claro está e fiquei mudo.
Ela olhou-me, com carinho espelhado nos seus belos olhos negros, e optou por "arejar" um pouco o ambiente para o meu lado.
- Adivinha quem fez um bolo de chocolate?
- Não faço a mínima ideia!!! - sorri eu.
Ficava maravilhado com esta faceta dela, e os seus ares de menina, uma menina na casa dos trinta.



domingo, 31 de março de 2013

Páscoa ...

 
Agora sim, aqui fica o resultado final do meu quadro Páscoa!
O primeiro aqui publicado obedeceu a um propósito que ... guardo para mim !!
 
Espero que cada um veja nele algo de si, algo com que se identifique algo que lhe proporcione uma boa sensação ao olhar.
 
 
" Páscoa "
 
Olêo sobre tela - 90/60
 
Seguem-se vistas de pormenor do mesmo quadro.


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

domingo, 17 de março de 2013

Novo romance ...


Por fim ao fundo da rua vejo Catarina, mais uma noite de "trabalho", mais ... muito mais de si ... perdido.
Como sempre desço as escadas do prédio e vou buscar um dos jornais matutinos que a carrinha dos jornais e revistas, deixara junto ao velho quiosque.
Como sempre ... simulo casualidade no nosso encontro.
Ao ver-me, Catarina tenta apressadamente dar um jeito à blusa, apertando alguns botões, fecha o casaco comprido e esconde assim as suas pernas, que a mini-saia eleva a ... soberbas.
- Olá!
- Bom dia! - diz-me ao aproximar-se de mim.
- Já a pé?!!
- Olá! - respondo sem tirar os olhos do jornal.
- Gosto de me levantar cedo, como sabes!
Parou junto a mim, aconchegando-se no casaco, pareceu-me cansada,
mais do que o habitual.
Peguei numa revista de decoração (ela gosta!) e dei-lha, depois enrolei o meu jornal debaixo do braço e ofereci-lhe o outro braço, que ela aceitou de imediato, dirigindo-nos então para o nosso velho prédio.
- Hoje, vens visitar-me depois do almoço? - perguntou ela com a cabeça encostada ao meu ombro.
- Talvez! - respondi.
Ela sorriu e beijou-me a face.
- Dizes sempre isso, mas apareces sempre!
- Como correu o trabalho? - perguntei-lhe olhando-a nos olhos.
O sorriso desvaneceu-se na sua boca, olhou o céu e deixou sair um ...
- Correu bem!
- Devias trocar de turno, trabalhar à noite não te faz nada bem!
- Talvez um ou uma colega, não se importe de trocar! - insisti.
- Soube do senhor João!! - desviou ela a conversa.
- Sim!
- Coitado, era boa gente!
- Sim! Desde que nenhum miúdo lhe partisse algum vaso ao jogar à bola!
- Não sejas mauzinho!!
Chegados ao nosso prédio, subimos ao primeiro andar pelas escadas, o velho elevador já estava na reforma há vários anos.
Esta velha hospedaria dava guarida a nós e a mais alguns solitários como nós, tudo ali passava lentamente qualquer mudança de carteiro, era por si só uma novidade, mas ... não era bem vinda por ser contra-natura, por ser contra rotina.
- Bem ... vou descansar! Vejo-te logo tá bem?!!
Sorri, só podia.
- Claro, até logo então!


Excerto do meu novo romance (ainda sem nome!!).   



 
 
 

domingo, 10 de março de 2013

Duelo ... entre nós



D uelo ... mente, coração
U niverso tão diferente, tão diferentes razões
E ncontrar em si razões para continuar, é ...
L er a mente de quem dedicadamente ... nos ama.

 
 
Duello mente del cuore
Universo cosi diversi, cosi diversi ... motivi
Trova ragioni per mentenere in sé, é ...
Leggere la mente di tutti coloro che con dedizione ... ci ama. 
 
 

sábado, 9 de março de 2013

Auto-retrato




       U nir-me em ... pensamentos         
       R esoluções ... incompreensões  
       B eliscar orgulhos
       A mar sem razão aparente
       N ascer a cada dia
       O rar ao meu coração

        Gostar ... de ser mudo
        O uvir ... como um surdo
        N avegar em cada ... olhar
cobi Ç ar a simplicidade a
        A legria de cada
        L ouco, mas ... isso é tão pouco
        Ou ... talvêz ... não.







Ainda tenho este album em ... vinil, claro que já quase não toca de tão "arranhado" que está pelo uso.
Comecei a ouvi-lo com treze anos, já lá vão ...
fica a título de recordação, e também é sempre um prazer re-ouvir o Mike.
Deixo a parte final do album Platinum, muito bom mesmo!!





domingo, 3 de março de 2013

Carlos Paredes


Tirando talvez o violino, não conheço mais nenhum instrumento musical, que nos toque a alma e os sentimentos, como a guitarra portuguesa.
Para demonstrar que eu tenho razão deixo aqui "O" mestre a eternizar ... uma vez mais o seu grande amor.

Quando já nos faltam as palavras, para comentar um talento destes, só nos resta mesmo é ... apreciar.


 
 
 

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Os meus quadros


A beleza artificial nas nossas vidas, esconde sempre o caminho que percorremos, ou ... que teremos de percorrer.


                   "De onde vimos ... para onde vamos"

Olêo sobre tela

Vistas de pormenor

 
 



domingo, 17 de fevereiro de 2013

O inverno do nosso descontentamento


Lembro-me de, em criança, rastejar entre livros de capas brilhantes, ou, amargurado por aquela vida meio fantástica que carateriza a solidão, ter-me refugiado no sótão para me enrolar numa grande poltrona modelada à forma do meu corpo, numa luz azul de alfazema coada pelas janelas. Ali, podia estudar as grossas traves aplainadas que suportam o teto - ver como estavam reunidas por encaixes e cavilhas de
carvalho, um lugar acolhedor, maravilhoso, quando a chuva se abate sobre o telhado. E os livros inundados de luz, os livros de imagens que serviram a crianças há muito tempo mortas de velhice, coleções de romances baratos, pilhas de estampas mostrando manifestações do poder divino: incêndios, inundações, maremotos e terramotos. O reino dos Infernos visto por Gustave Doré, com legendas tiradas de poemas de Dante; Andersen e os seus contos lancinantes; os dois irmãos Grimm, com as suas violências terríficas e as suas crueldades; a majestosa morte de Artur, ilustrada por Aubrey Beardoley, essa criatura doente e perversa - estranha escolha para celebrizar o grande, o vil Malory.


Lembro-me de admirar a sabedoria de Andersen.
O rei diz os seus segredos a um poço e eles ficam em segurança.
Quem confia os segredos ou uma história deve contar com a pessoa que o escuta ou lê, pois uma história tem tantas versões como leitores. Cada um toma dela o que quer ou o que pode, talhando-a assim à sua própria medida. Alguns aceitam uma parte e rejeitam o resto, outros passam-na à peneira dos seus conceitos, outros ainda transformam-na a seu bel-prazer.
Uma história, para poder agradar, deve ter alguns pontos de contato com o leitor.
Só assim ele aceitará a parte ... maravilhosa. 

Excerto do romance de John Steinbeck -
"O inverno do nosso descontentamento"
Prémio Nobel - 1962.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Alegoria

 
 
 "O maestro"
 
 
 
O homem na sua "sabedoria" ... ao invés de ouvir calmamente e usufruir dos sons inigualáveis da natureza que o rodeia, decide sobrepor-se a ela e tentar fazer com que esta "toque" a sua música mas ... como ele quer!!!
 
 
 
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